Somos Um promove lives sobre alimentação na infância
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- 21 de out. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2023
Por: Milena Tutumi
Entre todas as questões que “assombram” as famílias, é possível que a alimentação das crianças esteja entre as principais. Com tantos conselhos, mitos, tabus, ditos populares fica fácil se perder e se afastar do que realmente importa. Para explorar o assunto, a Escola Somos Um, que tem um cuidado especial sobre o que oferece às crianças, colocou o tema na mesa chamando especialistas em nutrição pediátrica para conversar nas redes sociais.
O primeiro bate papo aconteceu com a nutricionista Fernanda Melo Mendes, que deu dicas valiosas sobre a importância de uma alimentação saudável, seu impacto na saúde, como os adultos são referências na alimentação das crianças desde cedo, como gerar interesse das crianças por alimentos saudáveis, entre outras.
Já no dia 27 de outubro, às 20h, acontecerá nova live com a nutricionista Marcela Calsa, que compartilhou de antemão um pouco da sua experiência sobre o assunto. Confira nossa conversa a seguir e não deixe de assistir ao bate papo ao vivo, que será conduzido pela Diretora Pedagógica da Somos Um, Letícia Cisotto.
Para segui-las e acompanhar a live é só entrar na página do Instagram da Escola Montessori Somos Um

Falando de crianças em idade escolar, o que significa ter uma boa alimentação?
Ter uma alimentação saudável significa consumir alimentos nutritivos. O que seria isso? Alimentos in natura, que vêm da terra, que contêm nutrientes para nutrir essa criança. Podemos citar o arroz, feijão, verduras, legumes, frutas, as leguminosas de uma maneira geral, raízes, cereal, um pão, um bolo artesanal, nutritivo, feito em casa. É importante o adulto dar a disponibilidade, o acesso a esses alimentos na rotina e como base da alimentação dessa criança. Que o adulto proporcione essa qualidade e a inclua na rotina alimentar.
É fundamental que a criança tenha uma rotina alimentar. Quando há uma sequência de alimentações ao longo do dia, essa criança consegue entender melhor os sinais de fome e saciedade. E quando os adultos proporcionam uma alimentação de qualidade, precisam confiar que o que está sendo consumido está sendo suficiente para ela.
Além de ser uma base de alimentos in natura, é necessário que seja balanceada e equilibrada. Vale pensar para cada refeição nos grupos de alimentos que estão sendo servidos: carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas, minerais, antioxidantes etc.


A criança necessariamente precisa ter as cinco cores no prato, fazer cinco refeições por dia…?
Não necessariamente. Temos a nutrição ideal e a alimentação real, da vida real. Quando a gente pode ter uma variedade de alimentos no mesmo prato é excelente. Mas quando a gente não pode, tudo bem também. O importante é a gente tentar colocar pelo menos três grupos alimentares. Pelo menos uma fonte de verdura ou legume, alguma cor nesse prato.
Se der para ter mais de uma opção de leguminosas, verdura ou carboidrato, legal. A gordura geralmente já é utilizada no preparo dos alimentos. É possível também utilizar sementes que liberam a gordura. A variedade ajuda a enriquecer o prato. A gente vai variando, se uma refeição foi mais equilibrada, tudo bem a outra ser menos.
As necessidades nutricionais também vão mudando ao longo dos dias, de acordo com as nossas atividades.
Quantas refeições precisam ser feitas ao dia?
Depende da rotina da família, dessa criança. De três a quatro refeições normalmente funciona bem.
E a criança super seletiva, que se recusa a experimentar alimentos novos, como lidar? Existe uma melhor forma de apresentar novidades?
Nem sempre a seletividade é um problema, o que é preciso avaliar é o grau dessa seletividade. Se uma refeição é pouco variada, mas que contempla todos os grupos alimentares, ela pode ser nutritiva. Às vezes queremos que a criança atinja uma expectativa nossa. É gostoso ver a criança que come com variedade, corajosa para experimentar novos alimentos e sabores. É importante encarar uma seleção de alimentos com tranquilidade e naturalidade, mas também incentivar e encorajar a criança que seleciona mais a experimentar o novo.
Existem n fórmulas de fazer essa criança se aproximar do alimento, com atividades que envolvem o alimento, cozinhando, brincando numa horta, plantando, colhendo, guardando as compras e higienizando. Ou fazendo atividades que falem sobre o alimento, como leitura, pintura, atividade manual. Se a criança não quiser o alimento no prato, fazer com que ela mesma tire e coloque em outro recipiente, fazê-la cheirar… Tudo para aumentar o contato dela com o alimento.
Há uma idade em que é mais comum haver recusas?
Normalmente por volta dos dois anos, quando deixa de ser um bebê e passa a ser um pequeno indivíduo, com suas vontades, desejos, imaginação, quando a comunicação melhora com o uso das palavras. Às vezes pode haver uma falha nessa comunicação com o adulto. Por exemplo, um “eca” para o adulto já soa como rejeição, para a criança pode ser “está quente”, “não estou com fome”. Temos que ter cautela com as recusas desde o início para que não se agravem com o passar do tempo.
Como lidar com a questão do consumo de açúcar?
O açúcar é aquele ingrediente que faz parte das preparações que estão mais ligadas ao nosso emocional. Faz parte daquele alimento que consumimos mais por prazer do que por nutrição. Faz parte dos momentos de alegria, de celebração, das festas. Precisamos ter uma boa relação com ele. E o que seria isso? É apreciá-lo com calma, nos momentos que são convenientes, que o comer emocional está presente e que a gente pode desfrutar. É mostrar pra criança que ela pode comer um doce de vez em quando e que está tudo bem, que ela pode comer com calma e atenção.
Quando comemos com atenção plena, comemos mais devagar, apreciando mais e naturalmente comemos menos. Então, quando introduzirmos o doce fazendo dessa forma, é importante chamar a criança para apreciar sabores, texturas e comer junto.
E quando no dia a dia temos uma alimentação in natura, é válido não permitir que ultraprocessados façam parte da rotina, como achocolatados e bolachas, por exemplo. Mas quando acontecer, que seja um momento agradável.
Qual o papel da escola na questão da alimentação?
A escola tem um grande papel na educação nutricional das crianças. Independente de ser uma criança que fica em período integral ou meio período, ela se alimenta todos os dias na escola. Claro que se for uma criança em período integral ela fará a maioria das refeições na escola. Isso vai influenciar a longo prazo. Os tipos de alimentos, as escolhas, o acesso que a escola oferece a essa criança vão afetar diretamente na sua saúde. É muito importante que a escola tenha um olhar para a alimentação saudável.
Além disso, a escola é um ambiente de ensino, para onde a criança vai já entendendo que aprenderá muita coisa. Com a alimentação ela também está assimiliando muito, dependendo do tipo, da qualidade dos alimentos que têm ali, ela vai receber uma mensagem.
O que as famílias e a escola podem fazer para se manterem alinhadas nessa questão?
É importante ter clareza das informações das duas partes. Se algo causa desconforto é preciso esclarecer. Rodas de conversa, palestras, lives e oficinas para trabalhar o assunto com as crianças e pais. É trazer informação que faça sentido para todos e, assim, acredito que ambos conseguem trabalhar juntos e alinhados.
Quais requisitos alimentares que uma família deve se ater quando chegar a hora de escolher a escolinha?
Importante observar as questões de higiene da escola, nas pessoas que preparam as refeições ou que transportam, além da qualidade dos alimentos, ou seja, se fornecem alimentação nutritiva à criança, com alimentos in natura ou muitos industrializados. Se é uma escola que quer expor a criança a preparações variadas, despertando o interesse por comer alimentos mais saudáveis. E o ambiente dessa refeição, se tem mesas adequadas, se é um ambiente alegre e de diversão entre todos, com utensílios que favoreçam a autonomia. A criança também deve ser respeitada em seus sinais de fome e saciedade em relação à quantidade.

Sobre alimentações diferenciadas: No caso da Escola Somos Um, a política é não oferecer alimentos de origem animal. As crianças precisam de fontes de proteína animal ou isso é mito?
É mito! É possível termos uma alimentação saudável e equilibrada sem alimentos de origem animal. Quando pensamos na exclusão de um grupo alimentar específico fica até mais fácil monitorarmos os alimentos que possam implicar em um risco de deficiência. Quando retiro uma proteína animal, sei que preciso me ater às proteínas, à vitamina B12, ao ômega 3, à vitamina D e ao ferro, por exemplo. É super possível suprir as necessidades nutricionais desses componentes através de alimentos de origem vegetal e também de suplementação se necessário, da forma que for mais viável a cada pessoa.

Para fechar, qual o seu conselho para as famílias que estão tendo dificuldades em fazer a criança ter uma alimentação mais saudável e, principalmente, o que fazer para que a alimentação seja uma atividade prazerosa, sem causar prejuízos futuros?
Cada família tem sua rotina, suas escolhas, então os conselhos são muito variados. Mas pensando de um modo geral, é envolver a criança na escolha do cardápio.
Quando ela é parte disso, ela sente mais confiança em experimentar, em se propor a comer. O adulto oferece as opções e ela escolhe. Trazer a criança para o planejamento alimentar. Envolvê-la também em todo o ritual, como colocar a mesa, colocar uma música para o momento ser mais prazeroso, convidá-la para ajudar no preparo. E ao sentar a mesa, fazer um momento agradável. Falar de assuntos variados, fazer daquele um momento de partilha, de troca, para que a criança queira passar por aquilo sempre. E o quanto ela come vai se tornando uma responsabilidade dela, sem pressão. Assim, ela pode ter um melhor relacionamento com o momento e também com os alimentos.
Fotos: Felipe Paes e pixabay
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